quinta-feira, 1 de março de 2018


Seja nas redes sociais, nos jornais ou na televisão, no rádio ou entre burburinhos; sejam pessoas que não conheço, pessoas que conheço e que ao mesmo tempo desconheço, os últimos dias tem sido inflamados de notícias sobre a Síria. 

Entre um post e outro, entre uma notícia e outra, o retrato daquilo que devia ser uma criança, é substituída por um animal, também ele ensanguentado. Não sei quantos litros de água poupo se não comer um quilo de carne, não sei quantas vacas mato por ano, não sei a composição do sabonete com que lavo as mãos. 
Tenho preocupações ambientais: reciclo, já limpei praias e mares onde não podia estender uma toalha ou nadar, quando abro a torneira da água quente do banho guardo a água fria que de outra forma desperdiçaria. Fecho a torneira quando lavo os dentes, vou às compras com um saco reutilizável e prefiro comprar produtos que não sejam embalados em plástico. Não uso peles, até porque há outros destinos que gosto de dar aos zeros da etiqueta, mas nem pela faux fur tenho especial apreço. 

Nunca ao longo de toda a minha vida senti uma ligação forte aos animais. É comum que conversas sobre o tópico me suscitem indiferença, às vezes um súbito desprezo, que me inibo sempre de expressar porque sinto que não é aceitável dizer que não gosto de animais, do mesmo modo que é aceitável dizer que não se gosta da praia. Como é que não se gosta de praia? Também não sei. Mas conheço quem a evite se puder.  

Passeio os cães de amigos com os quais tenho uma ligação especial. E nesses momento acho que é bonito ter um animal que nos faça companhia, e já ponderei ter um. Mas eu, (e sublinho, eu) não conseguia estabelecer uma ligação emocional com um cão ou um porco da mesma maneira que amo os meus pais, a minha irmã, os meus amigos, e algumas pessoas que admiro e em relação às quais acho que seria uma perda substituí-las por um piriquito. 

Não consigo em mi mesma compreender como é que durante dias, semanas e meses que ascendem a anos, se perpetuam guerras e homicídios em massa, quando, do mesmo modo que eu sinto indiferença pelos animais, alguém é indiferente aos seus semelhantes e os deixa morrer e acha que é mais importante ir jantar a um restaurante e levar o cão. O que é que conta a minha pegada ambiental de cada vez que como um bife quando do outro lado do mundo há quem não tenha direito ao amanhã? 

Cada um tem as suas causas e eu não quero virar as costas a nenhuma, mas há dias como o de hoje, em que por cada dois posts sobre a Síria vejo um post pró-vegan, em que as ponho na balança e nem a fazer força com os dedos as consigo igualar. E chateia-me que a batota só resulte para alguns.